Torcida: paixão ou alienação?

Por Samira Batalha


Olê, olê, olá. Olê, olê,olá. Olê, olê, olá. 90, 100, 150 minutos de jogo que seja. A torcida não para de cantar. Imagine em um clássico mundial com o estágio cheio e prepare os ouvidos: você não vai ter muitos segundos de sossego. Isso é esporte, essencialmente uma atividade de lazer ou competição que deixa milhares de apaixonadas por onde passa. Quem nunca ficou com um hino de clube na cabeça depois de assistir a um jogo?

Que os gritos da torcida têm poder dentro e fora dos campos é inegável. No entanto, assim como todas as coisas que têm o potencial de unir, eles também carregam a dualidade de, se mal direcionados, dividir e alienar. 23 anos tinha Gabriela Aneli quando foi atingida por uma garrafa de vidro no pescoço por um torcedor do Flamengo aos arredores do Allianz Parque antes do jogo contra o Palmeiras. Segundo a família, o time era a vida e a alegria dela, que acabou com a alienação de um torcedor rival que definitivamente não entende os limites da paixão, muito menos sabe o que é respeito.

As manifestações sonoras no estádio transformam indivíduos em uma única entidade vibrante, compartilhando emoções e celebrações intensas. A sensação de pertencimento cria laços que ultrapassam barreiras culturais, sociais e econômicas, mas esbarra na violência quando se transformam em insultos pessoais ou em comportamentos hostis em relação aos adversários. O foco excessivo na rivalidade pode cegar os torcedores para a verdadeira natureza do esporte: um campo de competição que, acima de tudo, deve ser justo e respeitoso.

O esporte é uma celebração da variedade e da inclusão, e quando a paixão se torna uma barreira à participação, perde-se a essência do que torna o esporte tão cativante. O olê, olê, olá está mais do que liberado quando dentro da ética torcedora e o respeito ao próximo, mas nada jamais justificará a atitude de bater, ferir ou matar torcedores do time rival por uma paixão alienada no seu “time do coração” porque isso está muito longe dos que o esporte prega. Isso é pura violência e nunca se encaixará em paixão esportiva.

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