A viralização de assuntos no TikTok realmente auxilia na conscientização social? 

Desde criança, Giovana convive com mais de uma identidade em sua mente. Sem aviso prévio, ela muda a forma como se expressa, seu jeito de falar e sua personalidade, o que por muitos anos confundiu ela mesma e as pessoas ao seu redor. Depois de passar anos entre psicólogos e psiquiatras, ela foi diagnosticada há um ano com Transtorno Dissociativo de Imagem (TDI), uma rara condição em que a pessoa desenvolve mais de uma personalidade em sua mente – que são construídas de forma autônoma e tem seus próprios trejeitos. 

O Transtorno ficou mais conhecido mundialmente após o lançamento do filme “Fragmentado”, em que o serial killer apresenta 24 personalidades ao longo da trama. Apesar de dar luz à condição, o filme contribuiu para que estigmas em relação ao transtorno fossem reforçados, uma vez que as personalidades eram consideradas nocivas à sociedade. Assim como no filme, quando um assunto é viralizado no TikTok ou em outras redes sociais, o número de pesquisas aumenta, o transformando em debate público dentro e fora das redes sociais. 

Giovana, que teve sua vida transformada pelo diagnóstico, decidiu levar conscientização através das redes sociais. O que ela não esperava, era o tamanho de sua visibilidade e das críticas que recebeu. Ao levar o assunto para o TikTok, as proporções foram se tornando cada vez maiores, e assim como tudo publicado em espaços digitais, os questionamentos acerca da veracidade de seu diagnóstico foram iniciados. E esses questionamentos apenas aumentaram quando a garota foi a personagem principal da reportagem especial do Fantástico no dia 22 de agosto de 2023. 

https://globoplay.globo.com/v/11880016/ (reportagem na íntegra)

De acordo com dados da OMS, no Brasil, cerca de 1,5% das pessoas sofrem com TDI. Ações para a conscientização acerca do transtorno se fazem necessárias para que mais narrativas como a de Giovana sejam vistas e reconhecidas, entretanto, toda a exposição dela em suas redes sociais trouxeram pontos positivos e negativos, assim como o filme “Fragmentado”. Trazendo o assunto ao palco, Giovana foi criticada por reproduzir contradições em seus vídeos e ser “forçada demais”, como dito por internautas, em seus relatos sobre as identidades. 

Que os vídeos de Giovana trouxeram o assunto para a boca da sociedade, não há como negar. Com o sucesso de seus vídeos e da reportagem, o número de pesquisas cresceu de forma inesperada segundo o Google Trends, nos últimos 30 dias. Entretanto, toda a exposição das redes sociais resultou com que a própria garota estivesse ainda mais vulnerável em relação ao seu transtorno, pelas críticas e contradições dos internautas. Apesar de ser uma ferramenta essencial para a disseminação de informações, as redes sociais transformam todos os assuntos em palcos públicos, em que todos os consumidores têm espaço de fala. Quando se fala de transtornos mentais, a estigmatização acerca do tópico já é gigantesca, mesmo em meses de conscientização, como o caso de Setembro Amarelo. 

Nos trending topics do Twitter, Giovana foi posta a prova como mentirosa ou vítima do transtorno mental. Após as alegações, a garota não voltou para as redes sociais para se posicionar. Apesar de indícios apontados pelos internautas do caso de Giovana ser verídico ou não, o ponto principal que não pode ser esquecido pelos interessados no assunto, é que independente da fonte principal apresentada no Fantástico, ela é apenas uma das pessoas inseridas nos 1,5% de portadores do transtorno no país. Uma narrativa não pode definir a de todas as pessoas do espectro, e a comprovação acerca do transtorno foi feita por psicólogos e médicos da área. 

Com o caso Giovana, a discussão acerca das narrativas viralizadas nas redes sociais fica ainda mais evidente, onde o limite entre o mostrado nas telas e a realidade se misturaram – ficando sem linha delimitada, dando espaço para críticas, preconceito e estigmatização. 

Escrito por: Ana Thommen

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