Por Suianne Souza
A triste realidade de jornalistas perseguidos por trazer à luz a verdade
Segundo o código de ética dos jornalistas “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação”, não falamos aqui sobre viés informativo ou político no trabalho jornalístico, mas sim em resguardar a verdade. Um trabalho essencial e um dos principais motivos pelos quais jornalistas como Elena Kostyuchenko são perseguidos.
Elena é uma jornalista russa que durante 2022 atuou na cobertura de Odesa, Mykolaiv e Kherson durante um período da guerra da Ucrânia. Ela realizou um intenso trabalho de levantar dados e relatos da violência do exército russo contra civis e militares ucranianos. Após determinado período ela seria manda para Mariupol, contudo sua viagem foi cancelada devido a uma ordem não oficial emitida pelo governo russo de que se ela fosse encontrada deveria ser morta.
A mera ideia de que um jornalista realizando o cerne do seu trabalho, de trazer histórias reais para os holofotes da sociedade, pode ser ameaçado de morte por regimes políticos, é algo assustador para nós, enquanto jornalistas e sociedade. Entretanto, a história de Elena não para aí, mesmo após cancelar sua viagem e se afastar de seu país ela foi envenenada e somente meses após o acontecido descobriu que outras mulheres jornalistas russas também estavam sendo perseguidas.
Em um artigo para o The Guardian, Elena conta que ela deveria ter sido mais cuidadosa, pois em seu trabalho como jornalista não era a primeira vez que ela realizava coberturas em que sabia que correria perigo. Tendo em vista essa fala da jornalista, é possível compreender que o trabalho de um profissional da área pode, muitas vezes, encontrar obstáculos por parte daqueles que não vão se beneficiar com a exposição da verdade.
Ainda assim, é motivo de extrema preocupação que um jornalista seja impedido de realizar o seu trabalho livremente e seja ameaçado ou perseguido por tal. Os direitos à vida e ao bem-estar são inegáveis para qualquer pessoa e não deveria ser diferente para um jornalista que trabalha contribuindo para expor a verdade e auxilia no processo de desenvolvimento social.
Elena não foi a única jornalista perseguida nos últimos tempos, não foi a primeira e com certeza não será a última. Casos como o do jornalista britânico Dom Philips que realizava um trabalho sobre a preservação da Amazônia quando foi assassinado em 2022, estão muito presentes no nosso cotidiano. São em geral casos em que os jornalistas se envolvem com relevantes questões sociais de interesse geral, mas que infelizmente são controladas por grandes organizações que agem de formas ilegais.
Todavia, se esses casos são tão comuns porque não há medidas eficientes para proteção desses jornalistas? Por que esses profissionais que escolhem levantar suas vozes em prol da verdade continuam sendo perseguidos e impedidos de realizar seus trabalhos? Em seu artigo Elena nos conta que quando procura a polícia para denunciar seu envenenamento ela recebe apenas uma série de orientações para se mudar de apartamento e tomar diferentes rotas para casa. Mesmo quando a ameaça é real e ela corre riscos de ser morta no caminho entre o mercado e sua casa, ela não recebe mais que orientações.
Apesar de todos os problemas, ameaças e medos, nós jornalistas continuamos no trabalho de dar voz para aqueles que não são ouvidos, de trazer à luz a verdade que muitos não querem que seja vista. Pois o compromisso do jornalista é com a verdade e com a sociedade, mesmo que ela nem sempre esteja comprometida conosco.