Por Yasmin Ihemayed
No último mês, em 17 de agosto, a Netflix lançou o documentário sobre o caso Isabella Nardoni, relembrando o trágico episódio do dia 29 de março de 2008, quando a menina de cinco anos foi asfixiada e arremessada do sexto andar de um prédio pelo seu próprio pai e pela madrasta.
Inicialmente, o documentário, nomeado como “Isabella: O caso Nardoni”, apresenta depoimentos de várias fontes, incluindo o da mãe da menina, Ana Carolina Oliveira, que trouxe bastante veracidade para o projeto da Netflix. Mas, apesar de toda produção, a estrutura adotada pelo streaming é velha, requentada. Revezar os relatos das fontes durante o desenrolar da história é um método arcaico de fazer esse tipo de conteúdo. Já existem produções que contam essa história, nesse mesmo estilo, que também são completas, como o Investigação Criminal, disponível no Prime Vídeo.
Além disso, todos os elementos mostrados, incluindo vídeos e a reconstituição do crime, já tinham sido divulgados na época do acontecimento, ou seja, não havia nenhum tipo de evidência inédita. O que a Netflix explorou foi a emoção e a comoção do público, dando extrema ênfase ao depoimento da mãe e da família de Isabella.
Mas o que foi o estopim para o público, foi o tom de vitimização que deram para os assassinos, o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá. O advogado do casal, Roberto Podval, participa do documentário com a intenção de desmentir os fatos da perícia que comprovam a culpabilidade dos assassinos. Embora essa seja a função de um advogado, a forma como isso foi abordado no documentário acaba minando os argumentos já comprovados da promotoria e pela mãe da menina, trazendo uma sensação desconfortável de “será que eles são realmente culpados?”.
Outro ponto importante, que também é problemático, é o foco na vitimização da madrasta. Colocaram Jatobá como “vulnerável” em relação a Alexandre Nardoni, sugerindo que ela talvez não fosse tão culpada quanto ele. Como justificativa para essa abordagem, o documentário quis chamar atenção para a depressão pós parto da assassina. No entanto, a criminóloga Ilana Casoy, autora do livro “Casos de família: Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni”, esclarece que Anna Carolina Jatobá era, na verdade, a dominante da relação e que ela teria agredido e asfixiado a menina.
Apesar da produção trazer diversos depoimentos sobre o caso, levantar a questão da espetacularização da mídia e da polícia em lidar com a situação como um evento, o documentário deixa a desejar a partir do momento que começa a questionar a culpabilidade dos assassinos. Isso é inaceitável e provoca indignação. “Isabella: O caso Nardoni” tinha potencial para ser um documentário inovador, mas, em vez disso, não contribuiu de forma positiva para a experiência de assistir a um documentário criminal.