Por: Luiz Marquêz
75 mil estupros apenas em 2022, isso foram os denunciados. Muita gente vozeou por aí mais de uma vez; alguns nem imaginamos quantas. Sei como é. Os direitos humanos dizem, lá no artigo 28, que todos temos direito à paz e à liberdade. Não sei não. Enquanto alguém caminhar na rua com medo, ninguém vai ter sossego.
Só é estupro se for em um beco escuro. Me falavam isso, toda vez que eu pedia ajuda; sabe o pior, comigo era em um beco. Passei por maus bocados, não tinha o que fazer, estava na rua, não tinha como correr, me pegavam e vocês já sabem. Foram algumas vezes, umas 13.
Dizem que este número dá azar, 13, não sei se é verdade. Mas esta é a idade das vítimas que mais sofrem nas mãos de estupradores, a maioria é em casa, não tem nem como correr. No meu caso tentei mudar de vida, queria ser artista, fiz poema:
Gente da rua sofre, gente da rua sente,
gente da rua morre e ninguém entende,
quando alguém é ninguém,
nem despedida tem.
Desisti. Ninguém via, ninguém lia. Cansei de gritar socorro, ninguém me ouvia, então, parei de pedir ajuda e comecei a trabalhar.
Hoje, tô tranquila, tenho comida e moradia. Trabalho durante o dia, mas é bom, atualmente parei de usar peruca, meu cabelo cresceu. As vezes vem clientes aqui que eu já conheço, finjo que nunca vi, afinal comecei tudo do zero, mudei, vivo bem…O que eu faço? Sou atendente.
Me distanciei, o assunto não era eu, não sei mais o que dizer, é tanta gente gritando, clamando por ajuda, mas a gente não quer ouvir, fingimos se importar com todos, pra que, nada vai mudar, afinal é cultural, a cultura do estupro.
A cada dia que passa, estamos tornando a violência sexual mais aceitável. Isso não é, nunca será uma cultura, independente da frequência que ocorre. A luta contra o problema deve ser habitual, jamais deve-se justificá-lo por vieses socioculturais. Vamos pensar antes de dizer “Cultura do estupro”, pois enquanto você lia este texto, duas pessoas estavam sendo abusadas.