Vinicius André dos Santos Rodrigues
No último sábado trabalhei ouvindo conversas ao meu redor, é um lugar que as pessoas vão para o lazer , conversar, ser pessoas de verdade, um pouco fora do comum e do digital. O lugar traz vida e dessa forma traz barulho, tem até uma fonte de água para imitar o som de uma cachoeira que me acalma algumas vezes. Ali atendi uma pessoa a qual não é muito importante o nome já que nem perguntei (normalmente garçons não fazem isso), me pediu algo falando bem baixo, perguntei o que era algumas vezes e deu certo, mas ficou na minha cabeça a aflição de não saber se estava mesmo baixo ou se minha audição já fora melhor.
Já tem algumas semanas que sinto que estou perdendo algo e esse estado não me conforta. Ainda muito novo consegui a façanha de estragar parte da minha audição. Era algo que conseguia viver bem por um tempo, mesmo me causando problemas ao decorrer do tempo, diversas idas ao médico e dores constantes. Atualmente sinto que estou indo para um momento crítico da audição direta e acabo sentindo um pouco de inveja de quem pode aproveitar de 100% de sua audição.
No dia a dia é sempre bom ouvir todos os sons e sentir tudo que eles podem nos proporcionar, ainda mais com um fone de ouvido, meu problema é no ouvido direito mas parece ser no todo tudo fica mais baixo, acabo de entender que um interfere bastante no outro.
Logo em uma manhã de domingo é possível entender tudo que nos faz falta e refletir sobre o que perdemos ou o que podemos perder. Então foi o que fiz, o dia bonito e respirei apenas pelo desejo de me sentir vivo, tentar ouvir com clareza o que a cidade a natureza vem me oferecer. Ouvindo música só do lado esquerdo claro para não tornar os 20% do ouvido esquerdo em 0% de som. Existe um tom melancólico sempre que entro no ônibus para trabalhar e sou obrigado a pensar nisso, vou resolver esse problema, só não sei em quanto tempo e fico o restante do dia todo pensando nisso.
O silêncio é amedrontador, normalmente ele aparece como o prenúncio do show, algo antes da felicidade ocorrer. Acho que para pessoas que ficam surdas e já experimentaram o ouvir não é desse jeito, não sei como se sentem (e espero nunca saber) mas não é como alguém animado para um espetáculo de teatro em que todos ficam quietos no começo a espera do som e da arte. Continuo dando muito valor ao poder do silêncio, mas entendo que ele possa assustar os outros como assustar a mim.